Promovemos a viabilidade técnica e econômica de um novo modelo para retomada do algodão no Paraná
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O Paraná foi o maior produtor de algodão do país entre o fim dos anos 1980 até meados de 1990, quando o cultivo atingiu 700 mil hectares no Estado. O agricultor paranaense Aristeu Sakamoto brinca que praticamente nasceu em um fardo de algodão, na década de 1970. No entanto, a infestação do bicudo-do-algodoeiro, a expansão da soja e o cenário econômico levaram a cultura a praticamente desaparecer da região.
Hoje, o cultivo que lá atrás era atividade agrícola principal na fazenda do pai de Sakamoto, está de volta à área do agricultor localizada em Cambará, no Norte Pioneiro do Paraná. É uma alternativa interessante, tendo em vista que as lavouras das demais culturas vêm sofrendo reduções significativas com as variações climáticas, avalia Sakamoto.
Segundo ele, o algodão desponta como opção de diversificação de renda, com menor custo de produção e maior rentabilidade. Produtor de soja e cana-de-açúcar, ele destinou 30 hectares para o algodão na safra 2024/25,o sexto ano da cultura na propriedade e espera colher um pouco mais de 250 arrobas de algodão em caroço por hectare.
O volume, diz ele, vai gerar uma rentabilidade superior à das safras de soja e milho safrinha juntas, considerando a média de preço entre R$ 55 a R$ 60 por arroba. A soja não dá nem metade do valor estimado do algodão, calcula.
O produtor José Antônio Borghi também está apostando na cultura. Esta é sua segunda safra. Em 50 hectares, na propriedade localizada em Santa Cruz do Monte Castelo, no noroeste do Estado, ele adotou a cultura a fim de diversificar o plantio da soja, cultivada há 50 anos na área. O algodão é uma cultura mais resiliente às intempéries. Em 2024, tivemos perdas de 70% com a soja devido à seca, conta.
Na lavoura de algodão, ele espera colher 250 arrobas por hectare, se o clima seguir nas condições normais. Segundo ele, a colheita mecanizada e o manejo mais eficiente são vantagens. A expectativa de renda é maior do que com a soja e o risco é menor. Pretendo inclusive aumentar a área para a próxima safra, revela.
Nosso objetivo é ampliar o número de produtores e chegar a uma área de cultivo de 60 mil hectares
Almir Montecelli, presidente da Acopar
Sakamoto e Borghi são alguns dos agricultores que aderiram ao projeto da Associação dos Cotonicultores Paranaenses (Acopar), o Algodão Paraná, para promover a retomada do cultivo da pluma no Estado. A meta da Acopar é elevar a área no Paraná para 20 mil hectares nos próximos cinco anos. Na safra 2024/25, segundo a Conab, a área plantada deve ser de 1,8 mil hectare.
Um novo fôlego a esse movimento está sendo esperado também com a instalação, no Estado, de uma algodoeira para produção da fibra de algodão em um município da região, segundo Almir Montecelli, presidente da Acopar. A expectativa é que a unidade entre em operação na safra 2027.
A fábrica, que tem investimento de R$ 6 milhões provenientes do Instituto Brasileiro do Algodão (IBA), deve levar mais segurança aos produtores para ingressarem na atividade. Atualmente, o algodão paranaense é beneficiado em Martinópolis, no interior de São Paulo, o que encarece a produção.
Nosso objetivo é ampliar o número de produtores e chegar a uma área de cultivo de 60 mil hectares, para atendermos a demanda da indústria têxtil estadual e ir além disso. Essa volta do Paraná para a cotonicultura é possível devido a mudanças viabilizadas pela tecnologia, com todo o processo mecanizado, novas cultivares e controle de pragas e doenças, afirma.
De acordo com a Acopar, entre as vantagens competitivas do cultivo do algodão no Paraná está o menor custo de produção em relação a outras regiões produtoras do país. Levantamento feito pela associação aponta que enquanto nas áreas paranaenses o investimento por hectare fica entre R$ 12 mil e R$ 14 mil, em outras áreas, como o Cerrado, pode chegar a R$ 25 mil.
Também há diferença na aplicação de inseticidas: ao mesmo tempo em que no Cerrado são feitas mais de 24 aplicações por safra, a média no Paraná é de 11,7 aplicações. Na adubação, nas áreas do Cerrado é utilizada 1,2 tonelada de fertilizantes por hectare, nas áreas paranaenses o volume cai para 620 kg. Além disso, no Paraná é possível dispensar o uso de fungicidas, o que não ocorre nas demais regiões.
A rentabilidade do algodão é outro atrativo que a Acopar destaca em palestras, dias de campo e treinamentos que fazem parte do projeto. Segundo Montecelli, o retorno financeiro da cultura tem sido maior do que o da soja. A lucratividade é duas vezes superior à da soja na região, no caso de lavouras de algodão com produtividade em torno de 200 arrobas por hectare e ainda maior para áreas com cultivo irrigado, que já registraram colheita de 300 arrobas por hectare.
Além do custo reduzido, o Paraná tem uma vantagem estratégica na comercialização: as lavouras são colhidas antes do restante do país, permitindo o abastecimento do mercado interno durante a entressafra nas outras regiões, segundo Montecelli.
O algodão também traz benefícios na rotação de culturas, uma vez que a adoção de insumos deixa resíduos nutricionais no solo. Lavouras de soja semeadas após o algodão podem apresentar um incremento de até 20% na produtividade, afirma.
Nova geração de cotonicultores
Para o agrônomo Eleusio Curvelo Freire, pesquisador da Embrapa Algodão aposentado e um dos consultores da Acopar, o cenário atual da cultura no Estado compreende uma nova geração de produtores de algodão, com perfil mais tecnificado e profissionalizado.
Diferentemente do passado, a atividade tem despertado o interesse de grandes produtores. Mas convencê-los ainda é um desafio, pois muitos ficaram traumatizados com as perdas e redução drástica do cultivo lá atrás, diz.
O especialista reforça que, com o trabalho que vem sendo realizado pela associação, estão sendo criadas condições para cada gargalo da cultura, como zoneamento de áreas próprias para plantio, novas cultivares e a busca de financiamento para aquisição de equipamentos.
O agrônomo Wilson Paes de Almeida, ex-pesquisador melhorista de algodão no Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (Iapar), que também presta consultoria para a Acopar, acredita que a instalação da algodoeira e a busca de redução nos impostos estaduais devem marcar o ponto de virada no Estado: são ações necessárias para estimular o crescimento da cultura.
A Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep), uma das entidades que apoia a retomada do cultivo do algodão no Estado, vê a iniciativa como estratégia de diversificação. É uma oportunidade estratégica para os produtores diversificarem sua renda com uma cultura de menor custo e alto potencial de lucratividade, afirma o presidente interino do Sistema Faep, Ágide Eduardo Meneguette.
Fonte: Globo Rural