NOTÍCIAS Produtor, aqui você fica bem informado.

Publicado em 14/01/2022

Afinal, quanto tempo o algodão demora para se decompor na natureza?

Conversamos com especialistas da Embrapa e da Abit para derrubar os mitos sobre a decomposição do algodão na natureza.

Se você já pesquisou sobre a decomposição do algodão na natureza, deve ter encontrado muitas informações dissonantes sobre o assunto. Isso porque existem muitas variáveis: tipo de tecido, qualidade do solo, clima, pressão atmosférica, produtos químicos aplicados na fibra, entre outros.

Mas, para esclarecer alguns pontos sobre a biodegradabilidade do algodão, conversamos com Sylvio Napoli, gerente de tecnologia da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e Confecção) e com Alderi de Araújo, engenheiro agrônomo, doutor em Fitopatologia e chefe geral da Embrapa Algodão.

Confira abaixo as respostas para as perguntas mais comuns.

Do que é composta a fibra de algodão?
Basicamente, de celulose, que é natural, sustentável e biodegradável pela sua constituição química.

Por que, exatamente, a celulose é sustentável?
A celulose é um produto biodegradável e, por isso, sustentável. É amplamente utilizada na indústria madeireira, uma vez que é um dos principais componentes das paredes celulares dos vegetais, as quais constituem cerca de um terço do volume total de uma planta.

Além da madeira, a celulose é utilizada na indústria de embalagens como sacos, caixas de papelão, de madeira, engradados de um modo geral, sendo considerado um composto vegetal ambientalmente correto. Trata-se de um polímero de cadeia longa formado por um único monômero, a glicose, que é um polissacarídeo ou um carboidrato. Sua hidrólise completa resulta exatamente em glicose. Neste sentido, a industrial têxtil, que utiliza a pluma de algodão como uma das suas principais matérias-primas, contribui de forma decisiva para a preservação ambiental, uma vez que o algodão é formado por cerca de 94 % de celulose. Os demais componentes incluem proteínas, substâncias pécticas, ceras, cinzas, ácidos orgânicos e outros açúcares.

Quanto tempo o algodão demora para se degradar no meio ambiente?
Estudos apontam que a fibra de algodão exposta a condições extremas de ambiente começa a se degradar a partir de três meses. Um tecido, que se constitui em uma peça mais complexa, mas que mantem em si as características físicas e químicas da fibra de algodão, pode demorar mais no ambiente, havendo relatos que variam de 5 a 20 meses e de 10 a 20 anos. Variáveis como clima, composição do solo e temperatura são fundamentais nesta observação.

E os corantes, plásticos e etiquetas, como ficam na natureza?
Os corantes não representam fator limitante para esse processo e são degradados mais facilmente pelo efeito da insolação e da umidade. Já peças metálicas presas à peça de roupa sofrem oxidação e tendem a se degradar quando submetidas a condições de umidade e temperatura extremas. Adesivos plásticos são mais resistentes às intempéries e, mesmo com a degradação, podem ser fragmentados em peças menores e representar um fator poluente de maior resistência e permanecer dezenas de anos no ambiente. Entretanto, embora o plástico predomine em diferentes setores da economia, na indústria da moda a tendência não se verifica. “Não vemos como fatores de grande importância, na degradação da peça de roupa, os corantes, mas vemos os adesivos plásticos e os metais como uma preocupação maior que o setor deve observar mais atentamente”, explica Alderi de Araújo.

Qual a melhor maneira de descartar uma peça de algodão que não é possível mais usar ou doar?
Uma delas é procurar o fabricante para devolvê-lo. Assim, a empresa pode utilizar o produto usado para fazer a reciclagem mais adequada. A Política Nacional de Resíduos Sólidos torna os consumidores responsáveis por descartar, de forma consciente e sustentável, os itens de vestuário e, ao mesmo tempo, responsabiliza as empresas do setor pelo pós-consumo de seus produtos. Há confecções que possuem programas voltados a esse tipo de propósito e estabelecem planos de coleta de peças para reciclagem, em um processo conhecido como logística reversa. Há ainda várias indústrias que trabalham com reciclagem de tecidos, as quais podem ser procuradas para o descarte de roupas usadas. Essas empresas possuem máquinas que rasgam e trituram os tecidos em grandes quantidades, chegando a retalhar até 3 toneladas por hora que são transformadas em material para enchimento de sofás, edredons, almofadas, travesseiros, sacos para boxes, confecção de carpetes e outros produtos.

Todas as peças são descartadas da mesma maneira?
O descarte varia de acordo com seu atual estágio de uso. Se pensarmos em pós indústria na forma de retalhos, antes da confecção, estes deverão passar pela fase de reciclagem. É preciso fazer a desfibração e destinar o material para indústrias têxteis, automotivas ou construção civil.

Peças prontas seguem o mesmo caminho, porém antes do desfibramento, passam pela descaracterização com a retirada de aviamentos e retalhação para seguirem para reciclagem na indústria.

E a água e resíduos da lavoura que sobram nesse processo?
Os resíduos provenientes das fases anteriores à confecção são todos reaproveitáveis e até o efluente poderá ser encaminhado para a compostagem ou servir de fonte renovável de energia, sendo usada em caldeiras.

Resíduos da plantação também são reaproveitados como alimento para o gado.

Agora você já conhece mais sobre decomposição do algodão na natureza, descarte responsável e biodegradabilidade da nossa fibra! Aproveite e saiba mais sobre logística reversa para a indústria têxtil e a entrevista com o diretor da Cotton Move sobre sustentabilidade do setor.


Fonte: Sou de Algodão